Um dos maiores desafios deste ano certamente foi a experiência de escalar o vulcão Lascar, no Atacama.
Quando foi planejado roteiro no deserto e vi que o subiríamos fiquei tranquila, pois já tinha subido alguns outros em outras viagens. O que eu não tinha me dado conta naquele momento é que todos os vulcões que eu havia escalado anteriormente não tinham uma pesada mudança de altitude nem tampouco um decréscimo significativo de temperatura.
Quando eu me dei conta deste fato, fui perguntando para os guias e para outras pessoas que já tinham escalado o Lascar como tinha sido a experiência.
Toda vez era a mesma reação: “Nossa, você vai escalar o Lascar? Boa sorte!” – Confesso que aquilo me intrigou um pouco, mas depois de tanto incentivo de amigos trilheiros experientes como a Robertinha e o Alan, que faziam a viagem comigo, relaxei. Relaxei, mas não relaxei, na verdade porque sabia que o desafio seria interessante.
Enfim, fui lá eu fazer trekkings e mais trekkings pelo deserto do Atacama, passar uns dias no Salar do Uyuni até ficar totalmente aclimatada e pronta para o tal dia do Lascar.
Como acontece?
Primeira etapa – café da manhã
O guia te pega no hotel por volta de 5:30 horas e dirige cerca de uma hora e meia até chegar a belíssima Laguna Legia.
Por lá, tomamos um café da manhã bem leve e com vista para a laguna e para o vulcão Lascar, que dali o qual identificamos no meio dos outros vulcões pela nevoa que fica bem sobre a sua cratera.
Segunda etapa – a subida (tempo médio: duas horas e meia a três)
Assim que tomamos nosso café da manhã, seguimos de carro até a parte do vulcão que teremos que podemos ainda estacionar o carro. Ali, será o momento para organizar rapidamente todos os itens que serão levados na mochila e a disposição dos equipamentos que carregará até o topo.
A subida deve ser iniciada vagarosamente para pegar o ritmo da altitude (já que viemos de San Pedro de Atacama com altitude de 2.800 e começaremos a trilha a 5.000 metros), da correta respiração e do corpo para o adequado posicionamento dos equipamentos.
A primeira parada é bem tranquila e é feita após 30 a 35 minutos do início da subida. Tal parada é considerada a mais difícil, pois aqui sentirá se realmente terá condições de continuar. Se estiver bem (que foi o meu caso), o ideal daqui pra frente é não parar muito mais que o necessário para não perder o ritmo da subida e ir devagar para controlar a respiração e os efeitos da altitude, que começam a pesar cada vez mais.
Nos duzentos metros finais, meu corpo começou a pesar mais em função do cansaço físico e emocional e fui praticamente levada por osmose até a cratera, largando mão e arrastando literalmente os bastões. Neste momento, diminuir um pouco o ritmo e respirar corretamente farão muita diferença e serão de extrema importância.
Assim que cheguei na cratera, depois de dois horas e alguns minutos de subida, o que senti foi um mix de emoções misturado com a superação de meus próprios limites. É algo inexplicável e que recomendo a todos que são movidos a desafios, como eu.
Vibrei, gritei de alívio e sorri para eu mesma durante uns cinco minutos, até que o frio cortante com sensação de -5C começasse a invadir o meu corpo e esvoaçar os meus cabelos.
Confira o vídeo com a minha emoção lá no topo:
Observação importante: Caso você não visualize a nevoa sobre a cratera do Lascar, cuidado. Certifique-se com o seu guia se realmente as condições para escalar estão adequadas, pois além de se tratar de um vulcão ativo, o vento por lá pode chegar a mais de 110 km/hora.
Ficamos cerca de meia hora no topo para curtir, registrar o momento, descansar um pouco as pernas, tomar água e comer uma barrinha de cereal antes de descermos. Este é o tempo máximo ideal, até porque o vento e o frio são fortes.
A cada minuto a mais no topo, mais atenção com o aumento do vento e com eventual mudança nas condições climáticas.
Quarta etapa – a descida
Passada a excitação da subida, o abastecimento corporal e afins, era chegada a hora de descer. Pra mim, a parte mais difícil do trajeto, pois apesar de todo mundo dizer que na descida “todo santo ajuda”, eu tenho lá minhas dúvidas…rs
Se o bastão me ajudou muito na subida, imagina o quanto ele foi essencial na descida. Depois de passados os primeiros metros nivelares da volta, me deparei com algumas descidas bem ingrimes. E aí é que estava o problema. Eu, literalmente, empacava e chamava o meu guia Elias para me ajudar a posicionar o meu pé e o bastão nos lugares corretos para não cair.
Depois de umas três vezes que pedi sua ajuda e empaquei, o Elias disse com humor e paciência que eu perderia o posto de “Super Gardênia” da subida e que tinha que relaxar porque se caísse o máximo que aconteceria era “cair de bunda” no chão e que teria que prestar atenção aonde colocava o meu calcanhar, que ele sim seria a base da pisada e me daria firmeza.
Desconfiada que sou, achei que não era bem aquilo, não. Achava que se caísse, iria sair rolando vulcão abaixo, mas mesmo assim fui cantando a cada passo “calcanhar, calcanhar” até “cair de bunda” a primeira vez…
Depois que percebi que nada me aconteceria além de cair com o traseiro no chão, relaxei, mas relaxei tanto que caí umas dez vezes rindo de mim mesma todas as vezes e voltei a ser chamada de “Super Gardênia” pelo Elias…hahaha
Confira o meu depoimento no término da trilha:
Quinta etapa – retorno para o hotel
Assim que terminamos a trilha com gosto de missão cumprida e de superação é hora de relaxar e comer um lanche daqueles durante o trajeto de volta ao hotel.
Como neste dia estava hospedada no Alto Atacama e eles sabiam que faríamos a escalada do vulcão, preparam uma sacola cheia de comidinhas e lanche (de acordo com a minha escolha na noite anterior) para eu comer no retorno.
Qual é a duração da trilha?
Um bom tempo para fazer a subida é de duas horas e meia e a descida é de uma hora. Claro que há pessoas que fazem em menos tempo, mas é difícil. A maior parte das pessoas faz em um tempo superior a isso, na verdade.
Como estava com dois especialistas em trilha, o guia Elias e o Alan, fui no embalo deles e fizemos em duas horas e alguns poucos minutos mais. E, olha que mesmo empacando na descida, a fiz em uma hora. Super Gardênia!
É possível fazer a escalada sem guia?
Não e ponto! É proibido, além de ser perigoso.
O guia que subiu comigo, costuma fazer uma reunião com as pessoas que vão subir o vulcão na véspera para explicar sobre os trajes a serem usados, o percurso, como funciona a subida e a descida e afins. A escalada dever ser feita com guia experiente e em grupos pequenos para que a experiência seja a melhor possível.
Tem gente que desiste?
Sim. De acordo com meu guia, existem pessoas que desistem logo que chegam, pois não estão devidamente aclimatadas ou ficam com medo de subir. Além destas pessoas, outra parte desiste na primeira meia hora de trilha (naquela primeira parada decisiva).
O importante é você não se prender a este fato. Quando subi, já sabia desta informação e, ainda soube um dia antes de ir, que uma garota que conheci por lá tinha desistido de subir. Nem me abalei muito com a notícia, pois cada um é cada um.
Dizem que a trilha é fácil, mas o seu relato dá impressão de difícil
A trilha em si e o percurso são fáceis, mas o aumento da altitude e o frio extremo trazem certa dúvida para eu classificá-la como fácil. Além disso, bate um frio na barriga adicional por se tratar do vulcão mais ativo do norte do Chile, mas se me convidassem para subi-lo novamente, eu subiria.
Pré preparo e porque é importante fazê-lo
Primeiramente em função da altitude. uma vez que iniciamos o trajeto com altitude de 5 mil metros e o terminamos com 5.590 metros. Apesar de ser um trajeto curto, ele é feito em zigue zague virando um percurso de dois quilômetros e meio que exigirá controle constante da respiração e muita calma para aguentar o acréscimo da altitude e a redução de temperatura na subida e a brusca mudança de altitude na descida.
A subida é um exercício de superação mais mental que física. Já a descida é um exercício de equilíbrio e paciência. Por isso, tem que ir tranquilo e com pernas e mente condicionadas.
Além do pré preparo físico é importante fazer também o nutricional. Evite bebidas alcoólicas dias antes da subida e não beba nada alcoólico na noite anterior. Também opte por uma alimentação saudável no jantar e não coma carne vermelha.
O que fazer para se preparar fisicamente?
Um mês antes da viagem comecei a treinar mais intensamente em minha bicicleta ergométrica ao menos 40 minutos, cinco dias por semana para ter forças nas pernas e desejável condicionamento físico.
Recomendo esta atividade ou qualquer outra que te dê condicionamento, pois fiz todos os trekkings no Atacama e a escalada do vulcão sem nenhuma dor corporal no dia seguinte ou qualquer outro sintoma.
Além do cuidado com as pernas, será necessário o cuidado também com a cabeça, pois com a subida e aumento da altitude pode ser que tenha algum incomodo ou alguma leve dor. Se latejar muito, tome água para aliviar o tal do mal de altitude.
O que fazer para se preparar mentalmente?
Relaxa e vai. Só isso.
Se ficar pensando muito em mal de altitude, em altura e afins, não subirá. Tem que ter uma bela dose de bom humor e relaxamento pra subir e descer tranquilo.
Quais roupas utilizar?
Apesar do frio no topo, o ideal é utilizar as roupas mais leves possíveis. Subi com camisa e calça térmicas, fleece, jaqueta de plumas, cachecol, luvas, óculos escuros e um bom tênis de trekking. Aos homens, a mesma recomendação.
Alan, meu companheiro de escalada e marido da querida amiga Thaís Towersey do Guia Mundo Afora. |
Mesmo que não seja inverno ou não tenha previsão de forte vento, leve algo também para cobrir o rosto, a cabeça e as orelhas. É extremamente desagradável aquele vento na cara e em todos os lados sem proteção.
Quais acessórios utilizar?
Opte também por levar itens muito leves durante a trilha. Subi com mochila e pochete da Deuter, especialista no assunto, além dos bastões.
A mochila possui um dispositivo para colocar bolsa d’água em sua parte interna, com cano de saída para parte externa. Isto facilita muito a vida na hora de se hidratar, pois além de prático, não é necessário parar para mexer na mochila.
Apesar de não ser uma adepta a pochetes pelas minhas andanças, ela faz toda diferença também na trilha pelo fato de ter a possibilidade de deixar itens como celular, lenço de papel e outros pertences fáceis a mão. Já os bastões, foram essenciais na minha escalada, principalmente na descida.
O que colocar na mochila?
Coloque o mínimo possível, pois o seu corpo tem que estar leve para subir e descer. O ideal é levar um litro d’água, barras de cereal e bateria extra para sua câmera e celular.
Tome água suficiente para se hidratar, mas não abuse. Não há toilette no topo e em nenhuma parada. Se der vontade, vai ter que apelar para cabana ou para a sorte de ninguém de te ver. Como eu subi com dois homens e, já estava aclimatada com a altitude, economizei na água e fui ao toilette somente antes da subida e no retorno.
Observação importante: O frio, principalmente no topo, pode fazer com que a bateria da câmera (incluindo GoPro) e celular acabem rapidamente.
A escaladada do vulcão Lascar foi feita com agência Flávia Bia Expediciones, que possui um serviço diferenciado e responsável, ao valor de 150 mil pesos chilenos (preço em junho de 2016), com direito a lanche leve antes da escalada, equipamentos e roupas adequados, caso sejam necessários.
Umas das vantagens de fazer este e outros passeios com a agência é que além da dona (a própria Flávia) ser brasileira, te dá a possibilidade de fechar os passeios em reais via depósito em conta no Brasil e ter atendimento em português. Ao longo dos dias em que fiz passeios com a agência, escutei muitos comentários positivos de outros viajantes e era nítida a satisfação dos guias em trabalhar pra ela. Conclusão: indico de olhos fechados.
A importância de subir o Lascar com agência especializada e guia experiente
O Atacama é o lugar mais árido do mundo e, como consequência disso, todos os cuidados não podem ser poupados. É essencial que a agência que você fechará os passeios (literalmente) te proíba de subir o Lascar antes de cinco dias de aclimatação para que você não sofra nenhuma mal de altitude, te forneça os equipamentos da subida (bastões e roupas – caso não tenha) e pense mais em você do que no ganho financeiro.
O desgaste físico na escalada de um vulcão, ainda mais nestas condições é alto, e é de extrema importância ter uma agência sólida de suporte e que tenha um guia que apoie e te ajude na subida e na descida da forma certa, nos momentos corretos.
Me senti super tranquila com o meu guia, o Elias, pelo fato de ser extremamente calmo e experiente em trilhas de vulcões. A todo momento ele me incentivava me chamando de “Super Gardênia” e era neste ritmo que eu subia confiante e cada vez mais tranquila.
Desconto aos leitores do blog que fizerem os passeios com a Flávia Bia Expediciones
Os leitores que forem ao Atacama e fecharem seus passeios com a Flávia Bia Expediciones terão um desconto de 10% nos passeios. Só não esqueçam de falar que tiveram a indicação do Peripécias para que ela possa identificar e conceder o desconto, ok?
Não estou rasgando elogios a Flávia por causa de qualquer beneficiamento ou comissionamento próprio futuro, pois ele não haverá. Os leitores do blog sabem o quanto eu levo a sério esta questão de prestação de serviço e, que jamais indicaria um serviço ruim a vocês. Indico porque provei, gostei bastante e ainda consegui um desconto para vocês.
Se quiser mais dicas do Atacama…
Este post do blog foi feito pra você -> Atacama – dicas úteis e práticas para ler antes de ir
Considerações finais
Para quem quiser ver mais fotos e fatos da nossa viagem ao Atacama, basta procurar nas redes sociais pela hashtag #JustFunChile . O projeto criado pelo Peripécias juntamente com o blog Territórios em parceria com o blog Guia Mundo Afora. Para quem quiser ter acesso a outras percepções da mesma viagem, confira também os relatos e vídeos feitos pelas meninas em seus respectivos blogs.