Recentemente, estive pela primeira vez na Czechia, um país que sempre tive vontade de conhecer, por tanto que escutava falar de sua capital, Praga. Quando desembarquei no aeroporto, em uma noite quente e em pleno verão europeu, estava tão feliz de estar no país pela primeira vez que quase não cabia em mim.
Você pode até achar estranho, mas não sei explicar aquele sentimento tão especial, sem ao menos ter conversado com as pessoas que por lá vivem e sem nunca ter pisado no país. Naquela mesma noite, fui recebida com braços e sorriso abertos pelo Sr. Pavel, o transferista que me levou ao hotel. A partir daquele momento, comecei a entender o motivo pelo qual o destino se tornaria paixão à primeira estada.
Ao longo dos dias pela Czechia, meu olhar esteve atento nos detalhes de cada cidade que passei, cada rua, cada monumento. Queria saber mais e mais sobre a história do país, seu passado, presente, estilo de vida etc. Por ser um país que passou por muitas guerras, tomadas de território e invasões, seu povo tinha tudo para ser sisudo e para poucos amigos, a exemplo de parte de seus vizinhos, mas muito pelo contrário.
Apesar de muitos afirmarem que os tchecos são tímidos e discretos, o que realmente são. Meu olhar foi além desse estereótipo. A sensação que tive é de que os tchecos são acolhedores, empáticos e não se prendem tanto aos amargos fatos do passado, como a guerra com os suecos, Segunda Guerra Mundial, invasões e demais conflitos.
Claro que o passado está por todos os cantos, sendo extremamente presente na arquitetura, arte, gastronomia e, também, no vinho e lúpulo. Afinal, a luta para se manter independente de outros territórios da Europa Central não foi nada tranquila.
O OLHAR À FRENTE DA CZECHIA
Entretanto, o olhar a frente, o saber viver a vida e a cordialidade faz com que nos sintamos em casa, apesar de todas as diferenças culturais e históricas. Da forma deles, olham para o presente e futuro, fazendo críticas ao sistema por meio de manifestações de arte e humor.
Foi inevitável não fazer uma comparação com a também histórica viagem que fiz pela Alemanha. Por isso, acredito que quando planejar sua viagem pela Europa Central em busca de conhecimento e cultura deve passar não só pela Alemanha para entender como lidam com o pós guerra e seu eterno pedido de desculpas à humanidade, mas também deve colocar a Czechia, para além de Praga, em sua rota para entender o quão importante é ter este olhar à frente e o motivo pelo qual a arte é importante na construção da história de um país.
O FLORESCER DA FRONTEIRA
Além de eu ter uma paixão arrebatadora por Praga, outras regiões do país me fizeram ir às lágrimas quando as conheci com maior profundidade. Pode até parecer exagero, mas não é, quando falamos em conexões realmente profundas.
Um dos passeios mais emocionantes pela Czechia, foi um tour de bike que fiz em Mikolov, que passava na fronteira entre a Czechia e a Áustria. O caminho agora florido, percorrido por moradores e visitantes, antes era o corredor do terror, já que por ali estava a Cortina de Ferro. Construída pela então União Soviética durante o período da Guerra Fria, era um verdadeiro paredão de cerca elétrica, responsável pela morte de milhares de civis.
Ao andarmos de bike, vemos a cronologia dos fatos, relatos e fotos de pessoas inocentes que arriscaram suas vidas em busca de paz e esperança. No caminho também vemos um monumento em homenagem às vítimas, com muita simbologia e, muito próximo ao que vi em Berlim. Naquele momento, juntei tudo que tinha visto na Alemanha com o que já tinha visto na Czechia e lágrimas caíram dos meus olhos.
Para mim, é muito significativo e corajoso, pessoas buscarem liberdade e vida, mas tendo que batalhar com o sistema e com duras penalidades. Foi, sem dúvida, uma das experiências mais inesquecíveis que vivi na viagem pela Czechia. Do monumento até o final do passeio, os vinhedos, as flores e a paisagem, completamente harmônica, me deram um quentinho no coração do quanto é bom viver em tempos de paz.
GUERRA E PATRIMÔNIO MUNDIAL DA UNESCO
Continuando pela região da Morávia do Sul, Brno, segunda maior cidade da Czechia, deu uma aula de como sair de uma guerra de forma estratégica. No momento em que os tchecos souberam que os suecos desistiriam de dominar a cidade de Brno durante a Guerra dos Trinta Anos, caso não invadissem a cidade até o meio dia. As forças de Brno trataram de adiantar o relógio da Catedral São Pedro e São Paulo em uma hora, dificultando ainda mais a conquista.
A estratégica épica é celebrada até os dias de hoje, já que os relógios não só da catedral, mas também o moderno e exótico relógio astronômico soam mais fortemente às 11:00 da manhã todos os dias. Inclusive outra curiosidade: neste horário um sortudo é presenteado pelo relógio astronômico todos os dias, já que uma bolinha de cristal é “jogada para fora” como forma de presente a quem pegá-la. Nem precisa dizer do alvoroço que fica a Praça da Independência, não é mesmo?
Por falar em inovação, na cidade de Brno também está a Villa Tugendhat, uma casa projetada pelo famosíssimo e premiado arquiteto alemão Ludwig Mies van der Rohe, que estava muito à frente do tempo. A casa dos anos de 1920 ainda nos dias de hoje tem um conceito arquitetônico até atemporal, com vistas espetaculares para os principais pontos da capital da Morávia do Sul.
Infelizmente, Greta e Fritz Tugendhat tiveram que abandoná-la após 8 anos de uso por conta do início da perseguição nazista pelos judeus e explosão da Segunda Guerra Mundial. A mansão já foi propriedade da Alemanha nazista, centro de reabilitação infantil e desde 2001 é Patrimônio Mundial da Unesco. Não posso deixar de mencionar que na Villa Tugendhat foi assinado o tratado que estipulou a separação da então Tchecoslováquia em Czechia e Eslováquia em 1993.
CONTINUANDO EM PATRIMÔNIO MUNDIAL DA UNESCO…
E na Morávia do Sul, por lá também está o Palácio de Lednice, de arquitetura neogótica que pertenceu à família Liechtenstein e, atualmente, é Patrimônio Mundial da Unesco. O que mais me chamou a atenção foram seus jardins coloridos e francês, muito bem harmonizados com o palácio, além dos muitos detalhes em madeira maciça em sua parte interna.
Só de contar um pouco sobre a Czechia para vocês, como posso dizer que os tchecos não são criativos e com um olhar a frente, minha gente? De um jeito ou de outro, sempre estão em busca de manifestar suas emoções, crenças e protestos de uma forma diferente e com muita arte envolvida.
(Para ler mais sobre a Morávia do Sul, tem um artigo bem detalhado sobre a região aqui no NPD. Para ler, clique neste link)
A CZECHIA É O PAÍS DA CERVEJA PILSEN E ONDE ELA É MAIS BARATA QUE ÁGUA!
Os tchecos também sabem fazer um bom marketing acerca de um de seus maiores patrimônios: a cerveja pilsen! Quer algo mais genial que marcar em um smartwatch o quanto de exercício deve-se fazer para tomar um pint de cerveja ao final do dia?
É assim que o guia do bike tour pela Morávia do Sul e por Praga mede seu esforço diário. Achei o máximo a ideia! Para quem não sabe, os tchecos tomam em média 188 litros de cerveja per capita. Com todo este consumo, a consequência é que a cerveja é mais barata que a água no país. Em junho/julho, quando lá estava, no supermercado uma lata de cerveja custava a partir de CZK 13,90 (R$ 3,26) enquanto a água CZK 14,50 (R$ 3,40).
O LÚPULO É O OURO TCHECO, SABIA DISSO?
Não sei se sabem, mas na Czechia há uma cidade chamada Pilsen, que nem preciso explicar é a cidade da cerveja e onde está a fábrica da Pilsner Urquell, a primeira a produzir a cerveja pilsen em 1842.
Mas a curiosidade não para por aí! Você sabia que o lúpulo, nativo e cultivado há mais de 700 anos nos arredores da cidade de Zatec, é considerado o ouro tcheco e foi declarado Patrimônio Mundial da Unesco? Tô dizendo que este país é incrível rs! – O site oficial Visite Czechia traz uma lista de todos os declarados patrimônios da Unesco no país. Para conferir, dê uma olhada neste link.
Por falar ainda de cerveja e boa, aproveite e dê um pulo em Karlovy Vary, mais especificamente no Restaurante Karel IV e prove sua pilsen. Foi a melhor que tomei, até agora! E ainda no assunto (rs), calma estamos no país da pilsen. Sabia que tem shampoo e até sorvete de cerveja? Adorei o tom de maciez que deu no meu cabelo e achei uma delícia o sorvete, mas tem que tomar com outra pessoa porque é enorme.
VINHO E BECHEROVKA
E quem disse que a Czechia resume-se somente a cerveja? Não, não, meu caro, minha cara! Em Karlovy Vary, por exemplo, é produzido o Becherovka, um licor com ervas e segredo de sua fórmula mantido a sete chaves por apenas dois guardiões.
Na região de Pavlov estão os vinhedos, que produzem rótulos de altíssima qualidade com a uva pálava, típica da região. Destaque para a charmosa e requintada vinícola Reisten, que está estrategicamente em frente ao castelo medieval de Pálava. Quando estiver por lá, prove ao menos uma taça de Maidenburg Pálava e outra do Classic Pinot Blanc.
BEM-ESTAR E ARES HOLLYWOODIANOS
O povo tcheco gosta de tomar sua cervejinha, mas também não esquece de cuidar do corpo, mente e bem-estar. Em dias de verão, como bem presenciei, adoram ficar nas praças públicas e ao ar livre para aproveitar o bom tempo e os amigos, além também de utilizarem bastante a bike como forma de se exercitar.
No país, claro que não poderia faltar uma cidade que alia saúde e glamour. Karlovy Vary é considerada a capital do bem-estar na Czechia por conta de suas águas termais com propriedades medicinais, além de ser palco de um dos principais festivais de cinema na Europa e cenário de dois filmes hollywoodianos.
Tive uma experiência incrível de hospedagem no Grandhotel Pupp, hotel com mais de 300 anos de história e casa de personalidades e celebridades globais quando em Karlovy Vary. Não consegui sair desde o momento do check in até o check out. Aproveitei todas as piscinas, saunas, gruta de sal, academia, restaurante e todas as demais dependências.
Fiquei só imaginando se cheguei a ficar no mesmo quarto de Van Gogh, Beethoven ou Freud. Já pensou que demais seria? Claro que a cidade também é um charme e não tem como não se encantar com seus prédios de estilo neoclássico e barroco, por exemplo.
PRAGA, SUA LINDA!
Sabia que Praga seria amor à primeira vista!
A primeira cidade que conheci e a última que me despedi nesta viagem espetacular pela Czechia foi Praga. E tive a oportunidade de conhecê-la em pleno verão europeu, o que deu um toque ainda mais especial.
A Old Town (Cidade Antiga) de Praga é um museu a céu aberto, uma verdadeira aula de história e arquitetura. As edificações em estilos gótico, barroco e neoclássico estão lado a lado e enchem nossos olhos de beleza, junta e misturada. Por um fato esquisito, a cidade escapou dos bombardeios durante a Segunda Guerra Mundial, já que Hitler havia a escolhido para viver no pós guerra.
Como disse em uma rede social, ainda bem que ele não mexeu com Praga. E, ainda bem que ele se ferrou e não teve uma final feliz, tampouco virou morador da capital tcheca.
Construída a partir de 1357, com mais de 500 metros de extensão, ao andar pela Ponte Carlos (Charles Bridge), onde aconteceu de um tudo, inclusive um dos 30 santos, representados por estátua, foi jogado dali para o rio, avistará a maior concentração de turistas de todo país, já que é um dos locais mais famosos da cidade. Bem ali perto está o exótico e enigmático relógio astronômico que religiosamente de hora e hora faz um espetáculo, digno de parar literalmente os visitantes bem em sua frente.
Quando andamos pelo entorno e em outras pontes, avistamos paisagens que são uma mais linda que a outra. Fica difícil parar de fotografar, filmar e sentir a cidade. Ao mesmo tempo que temos tantas edificações históricas, uma passagem considerada a “rua mais estreita do mundo e restaurantes centenários”, obviamente, as manifestações de arte estão espalhadas por vários cantos da cidade.
DAVID CERNY, O ARTISTA MAIS POLÊMICO DA CZECHIA
Não tem como passar despercebido pelas obras e esculturas do polêmico David Cerny como a Cabeça de Kafka, com suas 42 placas giratórias de metal, que de hora em hora fazem uma rotação em 360 graus. Outra obra bem curiosa do artista é Streams, em que dois homens nus, têm seus xixis (jatos d’água) controlados eletronicamente para escrever mensagens enviadas por pessoas que visitam o Museu Kafka.
Tive a oportunidade de ver também os bebês e a mais nova obra do artista, que são as gigantes borboletas, alocadas em dois prédios distintos e bem próximos à Cabeça de Kafka.
VIDA NOTURNA EM PRAGA
Claro que quando estamos na terra da cerveja, das manifestações de arte diferentonas, a vida noturna é uma experiência que não pode passar batida durante seus dias em Praga. Fizemos um happy hour para lá de agradável no Kayak Beach Bar, onde tive a oportunidade única de andar de caiaque pelo Rio Moldava (Vltava) e chegar bem pertinho a Ponte Carlos para assistir ao pôr do sol. Inesquecível!
Também não deixe de vivenciar um bar no subsolo da cidade. Um dos mais famosos é o “Bar do Cachorro” (Vzorkovna ou Dog Bar) , que tem um cachorro em frente. Segundo a lenda, o animal ficava esperando seu dono em frente ao estabelecimento. Nos dias atuais, além de muita agitação, o que chama atenção também é seu jeito tcheco de ser rs – Com decoração excêntrica e até cesto indicando onde vomitar caso passe mal, é sem dúvida, um dos maiores símbolos de como a Czechia transformaram os famosos e misteriosos subsolos e labirintos em arte e descontração.
Depois de tantos contos, cultura e arte que vi e percebi na Czechia tenho certeza de que se não conhece ainda o país, o colocará na lista. Se foi somente à Praga, já colocou as demais regiões para conhecer, não é mesmo?
Há muito mais o que contar sobre este país incrível, que tive a felicidade de conhecer em 2024, o tirando da lista de desejos e o colocando na lista de destinos preferidos. Por isso, termino meu post com os artigos que escrevi sobre a Czechia, que são complementares e te ajudarão a planejar sua viagem e te inspirar!
BRNO, OS ENCANTOS E CONTOS DA CAPITAL DA MORÁVIA DO SUL
MORÁVIA DO SUL, UMA DAS REGIÕES MAIS FASCINANTES DA CZECHIA
KARLOVY VARY, A CAPITAL TCHECA DO BEM-ESTAR
GRANDHOTEL PUPP: 300 ANOS DE TRADIÇÃO EM KARLOVY VARY
HOTÉIS EM PRAGA: 3 ÓTIMAS OPÇÕES DE HOSPEDAGEM
5 RESTAURANTES EM PRAGA E COMIDAS TÍPICAS TCHECAS
TRANSPORTE NA REPÚBLICA TCHECA (CZECHIA)
VISITANDO PRAGA COM O PRAGUE VISITOR PASS
POR QUE CZECHIA E NÃO REPÚBLICA TCHECA?
Houve um rebranding em 2023, em que o país passou a se chamar Czechia ou Tchéquia em português invés de República Tcheca.
O país me pegou em cheio e, certamente, esta foi só a primeira de muitas vezes que quero por lá estar. Minha felicidade e emoção foram tantas que as pessoas que acompanharam a viagem pelo Instagram puderam colher um pouco deste sentimento e espero ter passado por aqui também!
Um beijo e até o próximo post,
Gardens
