Se estiver a caminho do Canadá ou pretende ir em breve, confira as novas regras de entrada no país a partir de 1 de maio de 2017 neste texto -> Visto canadense – quem não precisa?
Este post é dedicado a um grande amigo que perdi há alguns dias. Um homem que pela vida lutou veemente juntamente com sua esposa e, também grande amiga, Carole. Gáetan e Carole, sem qualquer dúvida, tornaram-se um casal símbolo do amor verdadeiro.
Gáetan foi (é) o homem mais gentil e culto que conheci. Após nossos jantares, regados a vinho, ele costumava caminhar pelas ruas ou sentar comigo para falar sobre o Canadá e suas particularidades.
Mesmo não sendo fluente em francês e Gáetan sem fluência em português ou inglês, nós nos entendíamos muito bem. Amizade e companheirismo não tem língua ou raça.
Gáetan, nunca te esquecerei, meu amigo! Serei certamente a sua “eterna princesa brasileira”…;o)!
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Com todo o banho cultural que tive sobre o Canadá, me sinto na obrigação de compartilhar com vocês uma de nossas conversas.
Sempre tive a curiosidade de saber porque no Canadá se fala francês e inglês, porque na província de Québec é falado o francês e nas demais províncias canadenses o idioma falado é o inglês. E, essa foi uma das minhas perguntas ao Gáetan.
Não sei se vocês sabem, mas o Canadá foi descoberto em 1497 pelo navegador veneziano John Cabot, que navegava a serviço da coroa britânica, tendo início de sua colonização pelos franceses a partir de 1554 através de Jacques Carter. O primeiro pedaço dessa terra a ser “pisado” pelos franceses foi o golfo de São Lourenço, mais precisamente, Montreal. Quem tiver passando por lá, verá uma homenagem na “Vieux Montreal”.
E pelo domínio da França, Québec caminhou entre índios, ursos, salmão, muito francês, harmonia e muita culinária boa até 1759. Neste ano, a Inglaterra invadiu esta província em toda a sua totalidade.
Enquanto o Canadá passava por um processo de convergência de idioma (do francês para o inglês) em todas as suas províncias, o povo da província de Québec não acatou tal convergência, uma vez que, em seu modo de ver, o francês era a sua língua de origem, independente de quem possuía a “posse” da província e do Canadá.
Durante este tal processo de transição, parte dos americanos lutava para se tornar independente da Inglaterra (o que ocorre em 1776) e, por incrível que pareça, a outra parte não queria ser indenpendente. Desta forma, com o objetivo de ainda ficar “sob as regras inglesas” uma parte desses americanos se mudaram para o Canadá.
Pois bem…naquela época muito desses americanos se instalaram em Québec, vivendo em harmonia nesta província que mesmo não falando inglês, os bem acataram.
Com o passar do tempo, a pressão para o povo de Québec convergir ao inglês era muito forte, pois a Inglaterra queria de qualquer jeito que tal província fala-se a sua língua. Isso gerou vários protestos e discussões entre o povo de Québec e os ingleses e, foi neste momento que os americanos interviram no processo.
Os americanos estavam do lado do povo de Québec e dispostos a lutar juntamente com tal província para que se mantivesse o idioma francês. Além disso, os americanos foram mais além. Eles ofereceram uma parte do território americano para que os canadenses desta província pudessem ficar e cultivar sua cultura e costumes. Naquela época, Québec era a provincia mais rica e mais habitada do Canadá.
E foi em função de todo este contexto, a Inglaterra obviamente não queria mais um confronto (que seria muito forte) e desistiu de “insistir” em 1774, deixando a provincia manter os seus costumes, o idioma falado e as leis civis.
E hoje como está a situação?
Bom, há um certo pensamento “separatista” por parte de Québec, o povo não faz a menor questão de falar o inglês, muito falam o básico do básico deste idioma, mas…
Montreal é integrante da província e, por ser uma cidade maior que passou por um forte processo de imigração de povos de todos os lugares do mundo, lá fala-se muito mais inglês do que francês. As pessoas em Montreal, quase que em sua totalidade são bilingues! Creio eu que é a única cidade efetivamente bilíngue no Canadá.
O pessoal em Québec chega até falar que Montreal não é a “cara de Québec” e eu concordo completamente…
E as demais questões, flor?
Resumindo, meus queridos leitores, é assim:
– Em cidades que possuem uma quantidade razoável de “french canadians” é obrigado por lei que os policiais falem os dois idiomas;
– Somente em Québec há uma obrigação para tudo estar escrito nos dois idiomas (publicidade, cardápios, transporte etc.);
– De acordo com a Lei 101, os alunos do ensino no nível elementar devem aprender os dois idiomas;
– Se algum “french canadian” for julgado em uma província que fale inglês, o juiz deve ser bilíngue;
– Quando você pergunta a um cidadão de Québec de onde ele é, ele dificilmente falará que é canadense. Ele falará que é de Québec.
E por aí vai…
Particularmente, tive a oportunidade de conviver bem nas duas províncias e conhecer bem o lado inglês e francês e a única coisa que tenho a dizer é que são dois extremos em todos os sentidos e entendo que é muito improvável que em algum dia o povo canadense unifique o seu idioma.