Você tem noção da importância de um crachá na carreira e vida pessoal?
O cartão magnético, que é quase parte integrante de nosso corpo em dias de trabalho no escritório, tem literalmente o poder de abrir portas no duplo sentido. Muitas vezes o escondemos por termos vergonha da foto antiga, que inclusive condena o tempo de Empresa. Outras vezes, o olhamos com orgulho de nossa trajetória. Entretanto, é inegável que é a prova física de nossa identidade profissional e construção de carreira.
Apesar da tendência de prestarmos atenção de verdade nele somente no ingresso ou saída de uma determinada corporação, gosto de fazer uma analogia com o crachá, o chamando de carimbo ou grife. Quando estamos em uma corporação de referência no mercado, não necessariamente entendemos de verdade o peso deste carimbo e o leque de oportunidades que temos e que levaremos conosco como herança. Normalmente, somente percebemos tal valor quando saímos, mas nem sempre é de imediato.
Há quase cinco anos, virei completamente a chave, deixando de lado uma longa carreira no mercado corporativo tradicional. Com isso, se foram meu crachá com mais de 15 anos de PwC e, a até então identidade profissional de senior manager, especialista em E&M em uma das maiores corporações de prestação de serviços de consultoria e auditoria do mundo. Entretanto, ficaram de herança o dom e missão de continuar a exercer funções como porta voz, mentora de carreira e promotora da indústria de entretenimento.
A IMPORTÂNCIA DE UM CRACHÁ, MESMO DEPOIS DA TRANSIÇÃO
A partir de dezembro de 2015, não era mais a Gardens (Gardênia Rogatto) da PwC, era simplesmente a Gardênia Rogatto. Ou seja, era eu por eu mesma, com um projeto embrionário para colocar em prática. Projeto este, que inclusive foi um dos motivos da minha decisão de viver novos ares fora do mercado corporativo convencional.
Se não tivesse feito um plano de transição de carreira muito bem pensado e estruturado, talvez não tivesse tido coragem de usar o Gardens da Gardênia Rogatto como crachá desde então e o transformar depois de alguns meses em Não Pira, Desopila.
Ao longo destes quase vinte anos, a cada dia que passa, percebo mais fortemente, que o nosso carimbo corporativo dá muito peso no momento de nossa apresentação em várias circunstâncias durante e pós virada de chave. Até os dias de hoje, alguns começam minha apresentação fazendo referência à PwC.
Absolutamente normal tal referência, já que além do peso do sobrenome e da carreira, em tempos de PwC, era chamada constantemente para entrevistas aos mais diversos e conceituados veículos de comunicação, palestras e tantas oportunidades de exposição por conta da minha especialização, carimbo e função de porta voz PwC do segmento de Entretenimento e Mídia.
Confesso que fiquei insegura de ser esquecida pelos clientes e pela indústria depois que tirei o forte crachá e tão respeitado sobrenome PwC. Entretanto, tive gratas surpresas. No momento em que comuniquei minha saída aos meus clientes de longa data, alguns deles e até concorrentes quiseram me contratar. Claro que a resposta foi não, pelo fato de que minha decisão era viver com outro propósito profissional e pessoal a partir daquele momento. Além disso, meu celular tocou por diversas vezes para falar não só sobre a indústria do entretenimento, mas também para falar sobre minha transição, posicionamento, assim como riscos e desafios que envolvem este tipo de decisão.
Claro que o sobrenome de peso e o relacionamento com uma rede altamente senior e qualificada me ajudam e muito no dia a dia até hoje, mas ficou claro o meu valor e qual é o espaço que tenho no oceano surfado desde o final de 2015.
QUAIS SÃO OS MEUS CRACHÁS?
Ao longo dos últimos sete anos, durante o meu processo de autoconhecimento, percebi também que na verdade o crachá que carrego é primeiramente da Gardens (Gardênia Rogatto), com fortes referências à PwC, ao Não Pira, Desopila e à Escola de Dança do Theatro Municipal de São Paulo (Municipal). Claro que o crachá de 15 anos de PwC é o que tem maior peso para grande parte dos mercados que atuo (exceto o do Turismo), mas foi com o conjunto deles que construí meu nome com credibilidade e respeito, independente da posição em uma grande multinacional ou start up.
Do crachá de bailarina do Municipal carrego como herança a postura, natural elegância (não sou eu que falo isso, são vocês…rs) e disciplina. Já o crachá da PwC me trouxe muito aprendizado técnico, de vida pessoal e corporativa, além de habilidades ímpares como versatilidade, flexibilidade, colaborativismo e sabedoria para manter naturalmente uma belíssima rede de relacionamento. O Não Pira, Desopila acumula a herança destas duas grandes escolas, sendo a tradução da minha história e deste jeitão desde sempre fora da caixa, tendo como propósito levar equilíbrio e serenidade não só para o mercado corporativo tradicional, mas para indivíduos fora deste ambiente.
Que loucura boa, não? Sem falsa modéstia, posso dizer que sou a prova viva de que juntar duas carreiras conservadoras como o ballet e a auditoria com algo totalmente descolado e que leva bem-estar as pessoas é mais do que possível! Demorei pra entender o grau de representatividade dos três crachás juntos no meu dia a dia, mas hoje os entendo, os respeito muito e os encaixo perfeitamente no meu cotidiano.
Claro que muitos que lerão este texto sabem bem o que significa ter sido uma bailarina da cidade de São Paulo. Afinal, grande parte das mães (e até dos pais) nos anos 80 tinham o sonho de ter suas filhas surfando esta pirueta. Lembro bem do meu ano de ingresso no corpo de bailado. Eram 5 mil candidatas para 20 vagas. Além do natural dom, tenho certeza que o que me ajudou a entrar naquela época foi essa carinha séria e ao mesmo tempo sapeca e sardenta que tenho até hoje…rs
A PwC, dispensa comentários, certo? Uma potência em formação profissional e pessoal. Não há corporação que não queira um ex-PwC entre seus colaboradores. Mas e o tal do Não Pira, Desopila? Do que se trata para ser um crachá tão poderoso quanto os demais?
Atualmente, o Não Pira, Desopila é uma plataforma de lifestyle consolidada e respeitada. No começo foi fácil absorver o meu antigo blog com dicas de viagem nele e continuar trabalhando com órgãos de turismo e marcas relacionadas. Isto porque tinha começado a construção deste pilar lá em 2011 com o até então blog As Peripécias de Uma Flor. Entretanto, pilares como bem-estar e gastronomia, tiveram que começar do zero, com coragem, determinação e muito conteúdo relevante.
Em um mundo em que a escrita e a leitura estão cada vez mais escassas, levar voz por meio de palavras é uma missão extremamente complexa, inclusive para quem tem este dom. Ao longo destes quase quatro anos, eu e todo time, temos conseguido fazer isso dia após dia, mas não paramos por aí.
Quando entendi o verdadeiro propósito do Não Pira, Desopila, o significado e diferença entre válvulas de escape e fuga, deu um estalo no meu cérebro. O tal do ajudar as pessoas a descobrirem suas próprias válvulas de escape para terem corpos e mentes mais leves e saudáveis vai muito além do trocadilho que até pouco tempo fazia.
QUANDO SE ENTENDE O PROPÓSITO E IMPORTÂNCIA DO CRACHÁ?
Usava muito: Gardens não pira, viaja. Era uma analogia à minha descompressão dentro do trocadilho do Não Pira, Desopila. Só que o ato de viajar não necessariamente é uma válvula de escape efetiva. Trata-se na verdade de uma sensação de bem-estar momentânea. Afinal, quando acaba ou está prestes a acabar uma viagem, na maioria dos casos,aquela sensação de não querer voltar para realidade é despertada. Correto?
Pois bem! Evoluindo com meus botões, entendi que o ato de viajar pode ser enquadrado para muitos como fuga e para outros muitos uma válvula de escape momentânea, já que não podemos viajar todos os dias ou mesmo todos os finais de semana. Além disso, quem gosta de arrumar e desfazer malas? Garanto que muitos são do time em que a preguiça impera rs
Bom, se viajar não é uma descompressão, o que é então? Pois bem! Foi aí que entendi que para termos bem-estar e plenitude, na verdade temos que ter bem firmes três pilares: estabilidade financeira, boa alimentação e válvulas de escape diárias.
Quando entendi a influência que meus três crachás têm na minha vida e o que efetivamente é uma válvula de escape, minha já aguçada criatividade fluiu melhor, fazendo sair do papel e do cérebro dois novos produtos dentro do Não Pira, Desopila: a mentoria descompressão e a de transição de carreira.
E do que adianta ter um projeto se não há quem aposte nele, correto? Foi aí que reforcei o quão importante é ter e saber usar os crachás e suas heranças. Reativei vários contatos, dentro e fora do mercado corporativo e comecei a falar sobre a ideia de fazer workshops e mentorias para indivíduos e empresas.
No momento desta reativação, obviamente o meu objetivo não era vender nada e, sim validar este insight para saber se estava no caminho certo. Apesar da proposta ser (pra variar) fora da caixa, todos contatos feitos para tal validação foram com colegas ex-PwC e PwC seniores porque sei que têm o perfil do público alvo.
Para minha surpresa, mesmo sem pedir e, com o objetivo só de explicar do que se tratava, todos (disse todos) se prontificaram a estender as mãos pra me ajudar a levar adiante esta solução diferente de tudo o que há no mercado. – O motivo para terem tal atitude? Certamente, o fato de me conhecerem como profissional e pessoa, foi fator determinante para confiarem no valor agregado de um produto cuja base são os meus quase 25 anos de carreira e experiência de vida.
Por isso, digo e repito. Se não tivesse construído minha marca e história em instituições que deixam herança e boas impressões, jamais seria o que sou hoje e teria as oportunidades que tenho.
ONDE A VIDA PESSOAL SE ENCAIXA NO MEIO DISSO TUDO?
Não há como desvincular a vida profissional da pessoal. Taí o home office coletivo que não me deixa mentir. Sempre falo que saber misturar o pessoal com o corporativo é algo complexo, mas necessário para ter liberdade de expressão e bem-estar. Afinal, qual o motivo de não se importar em estender a jornada de trabalho, atropelando inclusive o tempo de lazer, se não fizer o compensatório na situação inversa?
CONSELHOS BASEADOS NA MINHA EXPERIÊNCIA DE VIDA
Aos mais novos, que irão iniciar uma carreira ou que estão no começo de sua vida profissional, deixo alguns recados. Construa sua marca de forma sólida, com muito respeito, esforço e empatia pelas pessoas. Caso queira ser uma referência na área que for, não é possível avançar com pensamentos e atitudes medíocres. Não é vergonha ter ou querer uma carreira normal e sem emoção, até porque temos que ter este tipo de perfil no mercado. Entretanto, se quer ir além, persista e confie em si e em seu potencial, sem prepotência ou arrogância.
As minhas bases e crachás me fizeram ser esta camaleoa que sou nos dias de hoje. E não é porque tenho coragem de enfrentar mudanças e, sim porque tenho muito bem claro meus propósitos de vida pessoal e profissional. Sou pura gratidão a todos os meus colegas, que tem aberto portas inimagináveis durante este período tão delicado que temos passado. Além disso, sou eterna gratidão ao Municipal e à PwC por me ajudar a transformar o Não Pira, Desopila neste filho que tanto orgulho tenho. Haja criatividade e serenidade para lidar com a turbulência que é o empreendedorismo feminino!
Aos mais experientes ou aos que estão pensando em fazer uma transição de carreira, outros recados. Pensem e reflitam quais são os crachás que carregam. Aprendam a dar valor a cada um deles. Criticar o local onde trabalha pode ser na verdade uma fuga porque ainda não entendeu que talvez o seu lugar não é ali. Além disso, entenda se não está sendo altamente influenciado por algum ser dentro da corporação que não é tão feliz assim. Afaste-se de pessoas negativas e tóxicas, sempre que possível.
Aos que perderam seus empregos recentemente, entenda que na hora em que tiramos qualquer crachá e o deixamos no passado é importante saber dar valor a ele e a história de vida que te proporcionou. A sua última posição e Empresa, acumulada com as demais, será sua referência daqui pra frente. Saiba usar ao seu favor e não tenha medo de fazer o tal do marketing pessoal. Confie na sua história!
Por fim, convido todos a fazerem uma importante reflexão. Imaginem que perderam seus empregos. Parem por um momento e pensem o que será das suas vidas daqui pra frente sem cargo ou carimbo. Com base em suas conquistas, derrotas e méritos, será que conseguem se transformar também em camaleões? É fundamental se perguntar a todo momento isso para não ficar estagnado. É importante pensar em planos B, C, D e até E porque não sabemos nunca o dia de amanhã. Talvez tais planos se transformem no seu principal ganha pão. Por que não? Por que sim? – Já adianto que o empreendedorismo não é tão romântico quanto muitos pintam.
Independentemente se está no começo de carreira ou não, tenha uma única certeza. Nossa vida pessoal e bem-estar são diretamente impactados por nossas escolhas profissionais. Por isso, aconselho a todos que construam seu nome, sua identidade profissional e pessoal, tendo ou não expectativa de sair do atual trabalho ou fazer uma transição carreira.
Construa uma rede de contatos sólida, tenha propósito, ajude pessoas a serem melhores seres humanos a todo momento, assim como a serem melhores profissionais e não seja medíocre, a não ser que queira. De resto, deixa para o tempo e para evolução pessoal e profissional. Certeza que conspirarão também ao seu favor. Não tenha medo de tempestades ou derrotas durante o caminho, são elas que te deixarão ainda mais fortes e experientes.
Boa sorte e sucesso, sempre! São os votos de quem demorou meses para concluir este texto, feito de coração escancaradamente aberto.
Um beijo, Gardens
(eterna bailarina do Municipal, eterna PwC e atual Não Pira, Desopila)
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