No meio de um cenário de pandemia em que muitos têm feito home office integral é até estranho não defender este tipo de ambiente de trabalho. Claro que durante o período de isolamento social coletivo tal forma de trabalhar é mais do que bem-vinda e necessária. Entretanto, uma hora tudo isso passará (Se Deus quiser!). E aí, como serão as rotinas corporativas?
Será que teremos a volta diária aos escritórios ou haverá a opção de escolher entre home office integral e parcial na grande parte das corporações? Como será o tal “novo normal”? Estas são perguntas que líderes, se já não fizeram, terão que fazer rapidamente aos seus colaboradores para sentir o clima organizacional e a preferência no período pós isolamento.
Depois de tanto tempo em casa, tenho certeza que há uma nuvem confusa, insegura e indecisa sobre voltar a rotina de escritório convencional ao mesmo tempo que há outra nuvem clamando pela segregação entre o ambiente de casa e do trabalho.
O emocional nestes tempos sensíveis está muito presente. É preciso ter muita cautela e respeito nas relações entre líderes, liderados e entorno , além de entender o momento de cada um. Não se esqueçam que nossos colegas de trabalho são nossos familiares corporativos e, que estão muito presentes também, de certa forma, em nossas casas neste momento de home office integral.
Apesar de muitos entenderem que trabalhar em casa full time ajuda no bem-estar dos colaboradores, discordo totalmente. O ambiente profissional é um tipo de relacionamento, que é construído, na maioria das vezes, com relações interpessoais sólidas e presenciais. É fundamental a socialização para que as pessoas extraiam de dentro delas sentimentos como empatia, respeito, solidariedade, coletividade e amor ao próximo, sem falar no alinhamento da cultura organizacional.
HOME OFFICE INTEGRAL É UMA BOA?
Mesmo conhecendo bem a pessoa que está do outro lado da tela, quando fazemos calls, video calls e trocamos mensagens a partir de um cenário de home office integral, a pessoalidade não é 100%. Falta o tal do olho no olho real de um ambiente profissional, o tal de sentir a respiração de alívio, confiança ou tensão. É como se estivéssemos construindo uma nova rede social, que poderia muito bem ser chamada de Fique em Casa ou Vai Passar!
Optar por esta interação virtual integral pós Covid é perigosa no meu ponto de vista. Para concluir isso, não precisei ir muito longe nos pensamentos. Fiz uma analogia com o comportamento das pessoas no Facebook, Instagram ou TikTok. Muito do que se mostra é superficial, vazio e não reflete necessariamente quem é o interlocutor de verdade. Alguns inclusive são precursores do discurso do ódio ou da tolerância zero e se escondem em palavras escritas por dedinhos nervosos (inclusive em perfis fakes).
Se formos para o LinkedIn, os posts são mais profissionais, mas ainda contidos e sem a real identidade e personalidade de cada conexão na maioria dos casos. Resumindo, os indivíduos em redes sociais adotam comportamentos de personagens que compõem como bem entendem. Para levar este tal personagem para um ambiente de home office integral pode ser um pulo.
Pra mim, você somente se conecta de forma real com aquele “personagem” virtual se o conhece fora das telas ou se o interlocutor traz a comunicação de forma humanizada e espontânea. Apesar de muitos discordarem, não se esqueça que no online as pessoas tendem a mostrar comportamentos que querem ou que fogem do controle no ao vivo.
SERÁ QUE SOU UMA PERSONAGEM VÍTIMA DESTE MODELO?
Como trabalho no mercado online há muitos anos, o tal do home office integral é uma constante na minha vida profissional quando não estou em viagens pelo Não Pira, Desopila ou em programas de mentoria. Entretanto, pra fugir da mesmice e ter contato com diferentes pessoas, adotei a prática de trabalhar com frequência também da praia ou do campo (exceto durante a quarentena). Chamo estes movimentos de beach and countryside office. Óbvio que muitas pessoas têm preconceito com este tipo de rotina, mas o aconselho a tentar praticá-la ao menos uma vez na vida.
Quando estou em beach office, acordo bem cedo e descalça mesmo vou para beira mar caminhar por pelo menos uma hora na areia. Volto renovada pra casa e com o índice de produtividade lá em cima. Trabalho por horas e, caso esteja um dia quente e ensolarado, retorno à praia em algum momento para um mergulho e contemplação. Depois volto ao micro e fico até terminar o que me comprometi a finalizar naquele dia.
Parece algo inviável ou impossível, mas está no alcance da maioria. Basta se organizar e deixar o preconceito de lado. Mas é preciso ter disciplina, fazer um horário de almoço reduzido e saber usufruir de uma bela válvula de escape.
QUAL É O AMBIENTE IDEAL?
O ambiente ideal certamente não é o home office integral. Algumas pessoas inclusive não tem perfil ou não querem trabalhar em casa. Isto porque acham improdutivo ou porque não gostam de misturar o cotidiano pessoal com o profissional, que cada vez mais torna-se inevitável.
É essencial a mescla entre o home office e a rotina de escritório convencional para que as relações interpessoais sejam mais harmônicas não somente com os colegas de trabalho, mas também em nossas casas.
Não se esqueçam que temos duas famílias: a de sangue e a corporativa. Afinal, conviver no mínimo por 40 horas semanais com um grupo de pessoas é conhecer um pouco de cada um como ser humano, além de conhecer bem como profissional e saber, mesmo que em pitadas, sua vida pessoal. Já pensou ver sua família ou amigos só pela tela? Por isso, entenda que os colegas de trabalho também são uma família, mas a corporativa.
Agora, se você não quiser de jeito algum rever seus colegas de trabalho porque não sente a menor falta, é importante entender se está no lugar certo ou se não há nada de errado em você. Reflita sobre seu propósito de vida pessoal e profissional.
Para finalizar, um convite: ao menos uma vez na vida faça beach office e conte para as pessoas como foi sua experiência. Abra sua mente e deixe o preconceito e a politicagem de lado. Este ato é tão importante quanto manter o contato com seus colegas em ambientes convencionais.
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